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Assim nasceu a Fraternidade de São Caetano

Uma história real não tem começo nem fim. É sempre um trecho de algo que pode ser contado a partir de alguns acontecimentos anteriores, e termina no meio de outros que estão apenas começando. Também podemos dizer que a história de uma comunidade é o conjunto das histórias de cada individuo, e de cada entidade que dela participa. Quando os desejos somados convergem para um determinado fim, ele geralmente acontece.


A influência da Maçonaria no mundo é notória, e tem momentos onde age diretamente, como por exemplo, na independência e formação dos Estados Unidos da América, que foi a primeira experiência puramente maçônica na história da humanidade, vindo tornar a nação mais poderosa do mundo. O primeiro presidente da república, George Washington, jurou sobre uma bíblia emprestada de um templo maçônico e se orgulhava de comparecer à cerimônias públicas com seu avental de loja. Também na proclamação da república em Portugal, em 1910, quando a maçonaria carbonária saiu às ruas, antes mesmo de ser apoiada pelo exército. Outro exemplo aconteceu na unificação da Itália em 1870, com Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi.

A Maçonaria também aparece na história da cidade de São Caetano do Sul. Começa quando Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, maçom, resolveu passar por aqui a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, e nesta comunidade fazer uma estação ferroviária, inaugurada em 1867. Rapidamente, o novo recurso de transporte trouxe fábricas, oficinas e desenvolvimento do comércio ao lado da estação. Em São Bernardo este fato foi tão importante, que o antigo centro da cidade, antes na rota dos tropeiros que faziam o transporte entre Santos e São Paulo, vai aos poucos, se mudando, e em 1938 a sede do município passa a ser então o Bairro da Estação. Mas quando lá os políticos resolvem mudar o nome da cidade para Santo André, os moradores do antigo centro iniciam um movimento que vem tornar em 1944 o Município de São Bernardo independente, recebendo em 1945 o nome oficial de São Bernardo do Campo. São Caetano que já pertencera à Cidade de São Paulo, à Cidade de São Bernardo, era agora somente o segundo distrito de Santo André. Perdera a própria identidade.

Em meados dos anos 40, a comunidade de São Caetano ainda vivia o ufanismo da vitória das forças aliadas na segunda guerra mundial. Seus pracinhas haviam sido recebidos, em 1945, com festas nos bairros de origem, trazendo com eles os ideais de liberdade que a vitória proporcionara. São Caetano já tentara se emancipar de São Bernardo em 1929, mas não obtivera êxito. A década anterior com a revolução de 1930, quando Getúlio Vargas subiu ao poder, com a revolução constitucionalista de 1932, a Intentona Comunista de 1935 e a II Guerra Mundial foram fatos que proibiam quaisquer movimentos sociais, e a autonomia se tornara impossível nesta época. Alguns bairros de São Paulo - Vila Alpina, Vila Bela e Vila Califórnia -, haviam se desenvolvido graças à proximidade com nossa cidade, e se consideravam parte dela. Éramos, sem dúvida, um forte centro econômico. O sonho da emancipação voltara a empolgar os sancaetanenses, dando origem à segunda tentativa de obter a autonomia. O Jornal de São Caetano, fundado em 1946, e através dele a Sociedade Amigos de São Caetano em 1947, lideraram o movimento que enviou à Assembléia Legislativa do Estado um abaixo-assinado com 5.197 assinaturas solicitando a realização de um plebiscito. A reivindicação foi atendida e a consulta popular seria realizada em 24 de outubro de 1948.

Todos estes eventos com forte participação e união dos maçons da cidade, e como era natural, contribuíram para que em 19 de Maio de 1948 fosse fundada, a que seria, a primeira loja maçônica de todo ABCDRM, a Fraternidade de São Caetano. Ainda não havia o complemento “do Sul”, que seria somente agregado ao nome da nova cidade em 1º de Janeiro de 1949, em decreto do, também maçom, Governador do Estado de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, criando definitivamente o município de São Caetano do Sul. O próprio governador do estado estava entre os líderes autonomistas, entre outros políticos de projeção nacional como Auro de Moura Andrade, que seria presidente do Congresso Nacional e candidato presidência do Brasil em 1960.

 

A fundação da loja maçônica tinha tomado vulto entre os maçons do movimento autonomista. A grande maioria deles da Loja G. Mazzini, que se reunia no Palácio Maçônico da Rua São Joaquim em São Paulo. Foi marcada uma reunião na casa de José Lopes, situada na Rua Amazonas nº 1089, para o dia 19 de Maio de 1948, quando foi elaborada a ata da fundação. Seria mais um ato para gravar o nome de “São Caetano”, como já tinha sido o Jornal, a Sociedade de Amigos e também o Hospital São Caetano.

Consta na ata de fundação a palavra de encerramento do orador: - “...a satisfação de todos na concretização de uma velha esperança, instalando-se uma nova loja para grandeza deste oriente.” Esta frase “velha esperança” mostra que a fundação da loja já era algo estudado, desejado e esperado já a algum tempo.

Dentre os líderes autonomistas contavam alguns que já eram, e outros que viriam a ser maçons:
Adhemar Pereira de Barros (governador do Estado de São Paulo), Américo Cavalini, Anacleto Campanella, Antônio Caparroz Guevara, Antônio Lojudice, Concetto Constantino, Fernando Piva, Mauro Corvello, Matheus Constantino, Olindo Quaglia, Pedro Pardo Oller.

 

Na primeira eleição do município, efetuada em 13 de março de 1949, quando foi eleito o prefeito Raphael Pelegrino, entre os vereadores eleitos estavam os maçons: Concetto Constantino e Oswaldo Massei. 


As primeiras reuniões da nova loja foram em um salão onde funcionava um centro espírita, na Rua Municipal. Lá, outros maçons da cidade se somaram aos primeiros. O Primeiro Venerável foi Albino Scartezzini, seguido por Matheus Constantino, que administrou a loja por 11 anos.

Em 1952, foi lançada a pedra fundamental na Rua José do Patrocínio nº 288, e para completar o valor necessário, tomaram um empréstimo de Cr$ 10.000,00 junto ao Banco Noroeste e compraram um veículo diretamente da General Motors do Brasil, cuja venda resultou em recursos para a conclusão da obra. A pintura foi doada por José Lacativa.

Em 1953 o templo foi inaugurado. O primeiro de todos, na região. 

A Fraternidade de São Caetano ajudou nas fundações das lojas: Cavaleiros de Santo André (1948), Fraternidade de São Bernardo do Campo (1963) e Sete de Setembro de Diadema (1968). 

Na cidade de São Caetano do Sul, colaboraram com as lojas:
28 de Julho, Luz do Oriente, Matheus Constantino, G. Mazzini e outras.

Obras Sociais: Dentre seus membros encontramos maçons que fizeram parte da fundação do Hospital São Caetano, da Sociedade Beneficência Portuguesa, OAB, APM, Rotary Club e da Sociedade Beneficente São João de Jerusalém que administra a
Creche Oswaldo Cruz. Também fundadores do Colégio dos Veneráveis de São Caetano do Sul, que congrega as 18 lojas maçônicas do município, e tem organizado eventos de união e integração social em toda maçonaria sulsancaetanense.

Centenas de maçons fizeram parte das colunas da Fraternidade de São Caetano nestes 60 anos de existência. Advogados, Professores, Médicos, Dentistas, Farmacêuticos, Engenheiros, Economistas, Juízes de Paz, Sociólogos, Oficiais Militares, Industriais, Comerciantes, Administradores, Contabilistas, Funcionários Públicos, etc, fazendo parte essencial da argamassa social da comunidade, que viria a ser considerada, pela Organização Mundial da Saúde, a “Cidade Brasileira de Melhor Qualidade de Vida, no inicio do Século XXI”.

Dos quatro prefeitos maçons de São Caetano do Sul, três fizeram parte da Fraternidade de São Caetano:
Anacleto Campanella, Oswaldo Samuel Massei, e Raimundo da Cunha Leite.

Outros cargos políticos ocupados por membros da Fraternidade de São Caetano: Vice Prefeito – Antônio Russo; Vereadores – Concetto Constantino, Oswaldo Samuel Massei, Nicolau Delic, Claudio Musumeci, Mauricio Hoffman e Raimundo da Cunha Leite; Deputados Estaduais - Oswaldo Samuel Massei e Anacleto Campanella; Deputados Federais – Anacleto Campanella, Antonio Russo e Raimundo da Cunha Leite; Diretores da Fazenda do Município – Naur Ferraz de Mattos e Claudio Musumeci; Diretor da Saúde – Antônio Menezes Bonfim; Assessor Especial do Prefeito – Nicolau Delic. 

 

Todas as lojas maçônicas que hoje ornamentam o Grande ABC são filhas diretas ou indiretas da Fraternidade de São Caetano, ou vieram de São Paulo para reerguer colunas dentro do templo da Fraternidade ou de suas lojas filhas. São lojas de três orientes diferentes: Grande Oriente do Brasil, Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo e Grande Oriente Paulista.

 

Texto de Carlos Augusto Marconi
Engenheiro, Economista, Empresário e Maçom iniciado na “Fratenidade de São Caetano” em 1988.

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